Mulher gorda e lésbica, cantora Maíra Garrido anuncia show de novo EP e exalta representatividade: ‘Nossa existência tem que servir de exemplo’
A cantora e compositora Maíra Garrido sente que tem uma missão muito clara com a sua música: ocupar espaços sociais e culturais para que outras pessoas se sintam representadas. Com lançamento do EP “Pode amar”, nas últimas semanas, ela traz essa pauta para seu novo show, se descrevendo primeiramente como gorda e lésbica e abordando estes temas nas canções.
— De um modo geral, as pessoas se sentem muito empoderadas pelas minhas músicas e é uma coisa que eu espero mesmo, que as pessoas se sintam potentes — explica ela, que vê o resultado da sua luta no seu próprio público: — Estava conversando com a menina que criou o meu fã clube, a Dani, a gente conversa bastante. Ela me sugeriu: “Dá uma olhada em quem segue o seu fã clube”. Fui ver e percebi que, em sua maioria, são mulheres não-brancas e pessoas gordas de um modo geral. Achei isso interessante, porque a comunidade lésbica ainda é muito normativa, por incrível que pareça, e extremamente gordofóbica. Entendo que o meu público são pessoas que se sentem representadas pela minha imagem.
Na canção que dá nome ao EP, em que ela conta com a participação da cantora potiguar Juliana Linhares, as cantoras cantam logo de cara os versos: “Tão dizendo por aí que meu amor é doença / Falsos moralistas, gente que não pensa / Se amai-vos uns aos outros é o que diz sua crença / Eu não vou me calar diante dessa sentença”.
Como Maíra transita entre a MPB e o universo da música pop, onde ela considera importante colocar estes temas.
— A nossa existência tem que servir de exemplo e inspiração para outras pessoas também. Porque a gente ainda vive no país que mais mata pessoas LGBTQIAP+. Então quanto mais pessoas a gente tiver bem visíveis dentro no universo artístico, com certeza é potencialmente um movimento que salva vidas mesmo. Especialmente no mundo pop, que é um gênero musical extremamente padrão. Muito voltado para a heteronormatividade e para a sexualização do corpo feminino, especificamente do corpo magro feminino. Então você não vê no topo das paradas nenhuma mulher gorda, não padrão — reflete Maíra que também é atriz e fez carreira no teatro musical.
Ainda dentro deste tema, ela lembra que a sociedade ainda não aborda a gordofobia como ela gostaria e que muitas conquistas ainda estão por vir. Em um de seus singles, “Meu próprio Deus”, ela brada os versos no refrão: “É que eu sou pesada / É que eu sou ousada”.
— Pressão estética é diferente de gordofobia. Este debate é extremamente importante também, porque a gordofobia é estrutural. É uma coisa que inviabiliza a existência das pessoas, direitos básicos, como o de ir e vir, de caber em uma poltrona do teatro. Vou usar um exemplo que é o mínimo: tem alguns personagens para o teatro musical que nunca se cogitou colocar uma artista gorda para fazer, porque eles precisam ser suspensos por cabo de aço. Mas isso é uma justificativa muito gordofóbica, porque o cabo de aço tem que aguentar muitos quilos, em tese. Ainda temos que aprofundar muito este debate e trazê-lo à tona — conclui a artista.
Ficha técnica:
Intérprete e canções – Maíra Garrido
Direção musical – Guilherme Borges
Direção de produção – Alain Catein
Produção artística – Maíra Garrido
Show de abertura – Antonia Medeiros
Banda:
Guilherme Borges
Navalha Carrera
Guilherme Menezes
Lourenço Vasconcellos
Guilherme Ashton
Produção gráfica – Yasmin Lima
Iluminação – Fernanda Mantovani
Design de som – 220db
Produção – Maíra Garrido e AC Projetos de Cultura
Apoio Cultural – 220db, Teatro Cesgranrio
Serviço:
Maíra Garrido – Pode Amar
Data: 19 de junho
Horário: 19h
Teatro Cesgranrio
Rua Santa Alexandrina, 1011 – Rio Comprido – Rio de Janeiro
bilheteria@cesgranrio.org.br
(21) 2103-9682
Ingressos: